sexta-feira, 1 de julho de 2011

"INSENSATO CORAÇÃO" E "MACHO MAN" DESAFIAM A GLOBO: NOVELA E SERIADO DÃO UM JEITO DE ABORDAR TEMAS RELACIONADOS AO PÚBLICO GLS

Na última terça-feira (28), o “Profissão Repórter” exibiu a agressão de uma jornalista durante a Parada do Orgulho LGBT (lésbicas, gays, bissexuais, travestis e transexuais), realizada em São Paulo. Mesmo flagrado pelas câmeras, o responsável pelo ataque não admitiu o ato e atribuiu a culpa a sua esposa. Segundo ele, o casal achou que a profissional era lésbica e estava com outra mulher, por isso foi chutada.

A jornalista pode ser considerada vítima de uma decisão equivocada da emissora tornada pública em março deste ano. Em carta endereçada à Associação Brasileira de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais (ABGLT), Luis Erlanger, diretor da Central Globo de Comunicação, deixou claro que um beijo entre dois homens ou duas mulheres está totalmente fora dos planos da teledramaturgia da casa.

Já escrevi sobre essa polêmica em torno do beijo gay. Talvez possa parecer repetitivo. Creio que não. De lá para cá, continua em vigor o veto global. Em meu texto anterior, critiquei os autores da Globo por aceitarem passivamente a decisão da emissora. Contudo, hoje, reconheço ter outra posição, em especial com Gilberto Braga, Ricardo Linhares, Alexandre Machado e Fernanda Young.

“Insensato Coração” tem abordado com frequência um grave problema contemporâneo: a agressão contra homossexuais. Gilberto Braga e Ricardo Linhares mostram que a ignorância motiva a violência e fez uma dura crítica à Globo por meio do personagem Chicão (Wendell Bendelack).

No capítulo da última sexta-feira (24), o garçom do quiosque de Sueli (Louise Cardoso) registrou queixa na polícia após ser expulso do bar de Gabino (Guilherme Piva) pelo homofóbico Kléber (Cassio Gabus Mendes).


“Você acredita que tem até policial que acha que é contra a lei gays se tocarem em público? O carinho e o beijo não são proibidos. Contra lei é impedir um afeto, um abraço”, contou Chicão. O texto de Gilberto Braga e Ricardo Linhares foi uma excelente crítica ao posicionamento retrógrado da Globo.

Recentemente, os autores foram obrigados a mudar uma cena que reunia os personagens Eduardo (Rodrigo Andrade) e Hugo (Marcos Damigo) num motel. Segundo Patrícia Kogut, colunista do jornal “O Globo”, a direção da emissora considerou que, embora a sequência não tivesse nada de explícito, o fato de ser um motel era sugestivo demais.

Que diferença faz o local do encontro? Por que encontros furtivos entre homens e mulheres podem ser realizados em qualquer ambiente, mas um romance construído de forma interessante e respeitosa não pode ser mostrado em um motel, pelo simples fato de envolver dois homens?

A resposta veio por meio de Alexandre Machado e Fernanda Young, que mostraram insubordinação e provocaram seu empregador com o conhecido humor debochado da dupla. No episódio de “Macho Man” exibido também na sexta-feira (24), Nelson (Jorge Fernando) acaba metido em uma confusão ao tentar comprar um carro de Rogério (Rodrigo Lopez), que recentemente assumiu sua homossexualidade.

Ao fim de um test-drive recheado de piadas de duplo sentido, Nelson pede para ver a “chorumela reluzente” do carro. Empolgado, o acompanhante do cabeleireiro diz algumas bobagens ao pé de seu ouvido.

“O que? Tá doido? Eu, hein? Ficou maluco?”, gritou Nelson. “Fiquei. Fiquei maluco para dar o meu primeiro beijo gay”, rebateu Rogério. “Que isso! A sociedade não está preparada! Tira a mão!”, bradou o personagem de Jorge Fernando.

Será?


Por: Ale Rocha.

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