segunda-feira, 20 de junho de 2011

NORMA: MOCINHA OU VILÃ?

“Insensato Coração” melhorou. Após mais de 120 capítulos, finalmente é possível reconhecer o texto de Gilberto Braga. Isso aconteceu a partir do momento em que o autor investiu em uma interessante discussão sobre valores, retratada na busca de Norma (Gloria Pires) por vingança.
A enfermeira não mede esforços para desmascarar Léo (Gabriel Braga Nunes). No passado, ele a seduziu para tomar US$ 80 mil de Silveira (Hugo Carvana), que vivia sob os cuidados de Norma na época.

Traumatizado com o roubo, o patrão morre e ela acaba incriminada pelo sumiço do dinheiro. Na cadeia, jura vingança contra Léo, mas primeiro come o pão que o diabo amassou nas mãos da detenta Araci (Cristiana Oliveira).

Embrutecida pela humilhação e pelo sofrimento, Norma cansa de ser vítima do destino e decide virar o jogo. Consegue a liberdade com um plano que incluiu o assassinato de Araci e o roubo de uma boa quantia em dinheiro que a rival mantinha escondida fora da prisão. Em liberdade, entre outras ações sem escrúpulos, ela plantou drogas na bolsa de um colega de profissão para trabalhar na casa do milionário Teodoro (Tarcísio Meira), com quem se casou recentemente por interesse e tentará assassinar.

Por outro lado, após provocar o acidente que matou Luciana (Fernanda Machado) e incriminou seu irmão Pedro (Eriberto Leão), além de inúmeras tentativas de ganhar dinheiro fácil com a contravenção e pequenos golpes, Léo finalmente chegou onde acredita que merece estar. Atualmente, trabalha como um dos homens de confiança do banqueiro Horácio (Herson Capri) e continua ambicioso, tanto que acabará noivo de Marina (Paola Oliveira) por puro interesse financeiro.

A trama revela que Norma está cada vez mais perto de Léo. Porém, não se trata apenas do desejo de vingança. Os personagens estão próximos, sobretudo, na forma de agir. Neste momento, não há qualquer distinção entre Norma e Léo.

Por mais que parte da audiência aceite a moral justiceira de Norma, suas ações nunca serão justificadas do ponto de vista ético. Léo deve pagar pelos seus crimes, sem dúvida, mas não a qualquer custo. A enfermeira utiliza o mesmo expediente do qual foi vítima. Vibrar com seu sucesso é similar a criticar políticos corruptos, mas ter carteira de estudante falsa. Bradar contra a impunidade, mas sonegar impostos.

Curioso notar que o site oficial de “Insensato Coração” trata Léo como “mau-caráter”, mas em nenhum momento aborda com demérito as ações da enfermeira. Até mesmo a tentativa de homicídio contra Teodoro é justificada como um ato em que a personagem está fora de si, desesperada ao ver a possibilidade de naufrágio de seu plano de vingança caso o golpista se case com Marina.

Norma não é mocinha, nem vilã. Não transmite valores ou serve como exemplo moral. Por meio da personagem, Gilberto Braga provoca a audiência e mostra que a realidade vai além do bem e do mal. Resta ao telespectador sair da zona de conforto provocada pelo dualismo e, perturbado pela mudança brutal da enfermeira finalmente se questionar: VALE TUDO?

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